Esforça-se por ganhar raízes, mas sente-se só. Invariavelmente só. É jovem, é certo, mas nem a seiva, bruta e cada vez mais resinosa, lhe vale. Muito pior: desgosta-a, e desgasta-a, ter de viver sempre em tronco nu.
Hum...lindo! Pode tirar-se uma casquinha..e até um cascão..;-) Se eu fosse uma árvore(Brasil) seria um ipê-amarelo.
Manuela disse…
As árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada. Pouco a pouco se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos, e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores, e então crescem as flores, e as flores produzem frutos, e os frutos dão sementes, e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas. Sem verem, sem ouvirem, sem falarem. Sós. De dia e de noite. Sempre sós. Os animais são outra coisa. Contactam-se, penetram-se, trespassam-se, fazem amor e ódio, e vão à vida como se nada fosse.
As árvores não. Solitárias, as árvores, exauram terra e sol silenciosamente. Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem; com o vento soltam ais como se suspirassem; e gemem, mas a queixa não é sua.
Sós, sempre sós. Nas planícies, nos montes, nas florestas, a crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós e entretanto dar flores.
António Gedeão
Manuela disse…
As árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada. Pouco a pouco se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos, e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores, e então crescem as flores, e as flores produzem frutos, e os frutos dão sementes, e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas. Sem verem, sem ouvirem, sem falarem. Sós. De dia e de noite. Sempre sós. Os animais são outra coisa. Contactam-se, penetram-se, trespassam-se, fazem amor e ódio, e vão à vida como se nada fosse.
As árvores não. Solitárias, as árvores, exauram terra e sol silenciosamente. Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem; com o vento soltam ais como se suspirassem; e gemem, mas a queixa não é sua.
Sós, sempre sós. Nas planícies, nos montes, nas florestas, a crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós e entretanto dar flores.
António Gedeão
Manuela disse…
Desculpe João. O poema do Gedeão é enorme e ainda saiu repetido. Apague por favor.
Foi interessante (e interessante é uma palavra interessante). No dia em que saí à rua com suíças tive de passar por casa do Óscar para uma sueca com estas mesmas canadianas. Ou melhor: com as canadianas amparando-me a mim e às suíças. Felizmente que não são mutuamente exclusivas.
Comentários
Haikus em prosa são estas pérolas que nos ofereces cada dia :-)
Pode tirar-se uma casquinha..e até um cascão..;-)
Se eu fosse uma árvore(Brasil) seria um ipê-amarelo.
Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.
Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.
As árvores não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.
Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
a crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós
e entretanto dar flores.
António Gedeão
Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.
Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.
As árvores não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.
Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
a crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós
e entretanto dar flores.
António Gedeão