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Aconteceu em La Bisbal

Na memorável tarde em que apanhou a primeira tampa, e a última, Agustí revoltou-se contra todas elas. Indiscriminadamente. Remexeu Girona inteira até se deixar esgotar, ou engolir, por uma delas. As buscas da capitania (e da Generalitat) têm sido tão desesperadas quão infrutíferas: poucos têm conhecimento, mas o seu inchado cadáver ainda bóia ao largo de La Bisbal d'Empordà.

Taxidermia

Num caixão nem pensar; e cremado é que nunca mesmo. Adelino inclina-se antes para a taxidermia: nada mais natural para quem leva quase 30 anos de praça.

Lista A e lista B

No último mês, muita gente me tem vindo contar a história da galinha que em dois dias aprendeu a nadar para ir ter com os patos. Poucos, muito poucos, se recordam já do (outrora célebre) episódio do asno que pintou duas listas no dorso para se parecer com uma zebra. Burrice ou não, é pena que as coisas sejam assim.

Ovos de Colombo

Quando o ministro Rajapaksa puxou do tema, todos zombaram dele no gabinete. Todos sem excepção. "Camaradas, acreditem que problemas inéditos requerem medidas extraordinárias", vociferou Rajapaksa, que também já não era miúdo nenhum. As aves, novamente. Como não podia deixar de ser, no bas-fond político cingalês houve quem acusasse Rajapaksa de semear na ilha desnecessário alarmismo. "Mas será que ainda não perceberam que temos de extirpar o problema pela raiz?", insistia o ministro enquanto supervisionava pessoalmente a chacina dos galinheiros mais suspeitos. Nesse Inverno de 1967 houve fome na capital, é certo, mas o resoluto Rajapaksa foi, paradoxalmente, dos poucos em Colombo que sobreviveu à crise dos ovos.

Kenzo

Sempre que os tinha nos pés, Toomas Hendrik ficava eufórico. Aqueles sapatos Kenzo, pretos e já bem escamados, emprestavam-lhe uma confiança musculada. Épica. Hoje, porém, tal não aconteceu. Toomas Hendrik estranhou, primeiro. Só depois reparou no pedaço de bolo que se lhe grudava na sola.

Vai beijar o homem-bomba!

O que não vivi, um dia eu hei-de inventar contigo. Vá lá, encosta-te lá. Quero-te bem. Tãaaaaao bem...

Arrufos

O que para Beatriz era um pão de deus, para mim era uma arrufada. "E 'Deus' escreve-se com maiúscula", acrescentava ela. Claro que eu não me resignava: "Mas será que não entendes que isto não passa de uma arrufada?" E ela ofendida: "Ignorante! Se gostasses de coco não dizias isso!" E eu exaltado: "Onde é que tu vês coco aqui?" E ela: "Os tolos nada percebem de bolos!" E prosseguíamos horas a fio, até ao dia em que a coisa ficou mesmo feia. Se me arrependo? Um nadinha: só sei que após aquele serão nunca mais houve brioches lá em casa.

El Pichichi

As más línguas não se cansavam de apregoar que vivia na mama. Mas o goleador punha uma rara dignidade em tudo o que fazia. Gabarolas, insistia: "A técnica da desmarcação é de todas a mais difícil. E decerto a mais penosa! Um passo em falso, uma imperceptível hesitação, e já estamos fora de jogo... Fora de jogo para sempre!" A verdade é que teve o beneplácito delas. Gostavam de ser enganadas. Talvez por isso mesmo nunca nenhuma tenha levantado a bandeirola.

Pulsar dos tempos

Custódio subiu a pulso na vida. E tudo lhe correu sempre de feição, porventura bem demais, até ao dia do seu divórcio. Saberão já que Carolina lhe ficou com quase tudo. Mas, por acaso, a culpa até foi dele: numa noite mais desbragada, de copos n'O Aires, confessaria ao Serrão que já não suportava mais aqueles tornozelos anafados.

Ventania

Angélica viu nisso um auspicioso sinal: aquela rajada, seca e única, soprava na direcção do convento.

Paco e a bandeira

Claro que o plano (estratagema) de Paco não resultou. Jamais poderia resultar. Toda a sua família, assim como alguns amigos mais próximos, acabaria por comparecer em Segóvia para o juramento de bandeira. "Como é que eles sabiam?", interrogou-se o jovem mancebo mal os viu na cerimónia (e quase todos sentados na primeira fila, e exibindo um sorriso de orelha a orelha). Caberia a Núria desfazer-lhe a dúvida, algumas semanas mais tarde. E aquietá-lo como convinha, naturalmente: "Compreendo tudo o que me pedes, querido mano... Mas da próxima vez tenta dar menos bandeira..."