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Quim

Há na humanidade (e se me permitem grafarei com minúscula) uma pulsão cruel, indomável, para furar. Perfurar. Esburacar. Penetrar. A do imberbe Quim era o berbequim.

O Ferro da Madeira

Muitas vezes chove, copiosamente até. Mas o Sol da Madeira é ardente. Sanguíneo. Aquece-nos bem. Isto, naturalmente, nunca porá em causa a condição do Ferro: é, e sempre será, um fantástico condutor.

Copo com água

Gustavo tinha sede. Muita. Entrou na Balalaica e pediu um copo de água. Nessa tarde, Elisa estava a servir ao balcão. Sentiu-se tentada a levá-lo à letra. Viu nele (ou naquele pedido) um homem sério. Hoje são casados e Gustavo nem sabe bem se é feliz. O que ele queria mesmo, e já mo confessou, era um valente copo com água (da torneira que fosse).

Petersburgo

Não há nada neste mundo (nem no outro, haja ele) mais admirável do que os Invernos de Petersburgo. São de uma matemática coerência. Rigor: o termómetro finta o zero e o Rio Neva gela. É bonito de se ver e, só deste momento, até me dá vontade de ir já a correr buscar os patins.

Golos de capoeira

Num primeiro instante, assim que a notícia foi conhecida, tornada pública pelos pasquins da República, ninguém nela quis acreditar. Um guarda-redes com gripe suína? Impossível. Recordo-me até que o circunspecto Pablo comentou alto e em bom som, dando uso àquele vozeirão tonitruante que nos embevecia a todos: "Mas ainda não perceberam que é boato? O que um guarda-redes pode ter no máximo é gripe das aves..."

Dream Team

Maurice era o único que vestia sempre a camisola. Todos os outros jogavam de peito aberto, invariavelmente. Formavam uma grande equipa, mas esses foram tempos em que ainda não faltava paixão a este jogo.

Laços de ternura

O jantar de Consoada foi substancial (peru, como soía acontecer). A conversa prolongou-se muito para além do conhaque, sempre contígua ao presépio, e prolongar-se-ia, não fosse Mónica anunciar finalmente a justa retirada. Solícita, e com desusada veemência, sua mãe ainda a acompanhou à porta, e somente para frisar: “Volta sempre, minha querida. Sabes que cá em casa tu és como se fosses da família...”