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Vidrão

Modesta e transparente? Sem a menor dúvida. O grande problema é que Kristel saiu daqui desfeita em cacos. Tinha demasiados telhados de vidro.

Nuvem passageira

Nu vai Sair pela vagina Nu vem De gorro p'ra casa Nu vai Crescer na sombra Nu vem Pelado ao Sol Nu vai Pelos pingos da chuva Nu vem Escorregando no gelo Nu vai Engolido nas ondas Nu vem Já cadáver na areia Nu vai A caminho do forno Nu veio Sob forma de cinza

Gota

Imobilizado naquela cama a ver as dunas de Porto Santo, e como se já não bastassem as constantes inflamações provocadas pela acumulação de tanto cristal, mormente no dedo grande do pé esquerdo (embora o dedão direito também não fosse para melhor), Jeremy decidiu finalmente debruçar-se um pouco mais sobre o Iluminismo alemão.

Burqa

No dia em que Irina entrou desesperada pelo consultório adentro, o doutor Pavlishchev ainda soltou uma sarcástica gargalhada. Empurrando com os pés a cadeira rodada para trás, ágil e com máxima, ajuntou a prescrição possível: "Jogou-lhe ácido sulfúrico na cara e ficou toda  desfigurada? Alguma razão terá ele tido, mas olhe, converta-se ao Islão e não pense mais nisso."

Cá se pagam

Que não reinassem com ele: pois foi naquele preciso dia que Fábio comprou o seu bilhete de ira-e-volta.

Favela

Morro da saudade.

Pacífico

Eu apenas disse Pago-Pago. Fui honesto, talvez pela segunda ou terceira vez em toda a minha vida. Não me peçam mais, por favor, é já um grande esforço. Ela, bruta como sempre, lá me respondeu Bora-Bora. Fomos. Os três e até foi bem calmo, divertido até.

Helena

Adorava as tragédias de Ésquilo, embora nos garantisse ser muito amiga dos animais.

Seco como a fruta

Individualista, certo. Só não lhe tirassem aquele queque de noz.

Sr. Coreia

Sempre que lhe chamavam Joaquim, Kim fazia questão de corrigir.

Filho único

"Dá-me só um segundo", pediu-lhe Bernardo antes de correr para o lavabo. Porém, nesse breve instante, Carlota decidiu que já não queria mais.

Fafe

Possuído pela sede de vingança, o Ribeiro andava de cabeça perdida. Ainda que deu ouvidos ao concelho do Soeiro.

Filhos: do bem e da maldade

O meu filho Jonas tem 7 anos, vive na Estónia e, no dia-a-dia, raramente tem oportunidade de escrever em português. Contudo, é o exemplo vivo de que as crianças conseguem ser esponjas (analógicas e digitais). A fonética e os emojis hieroglíficos vencem as barreiras linguísticas e nacionalistas quando quer escrever ao papá e ao avô. Ontem, via WhatsApp, foi assim: "Opri kato ❤️🇵🇹❤️❤️". Há coisas que, por muito pós-sovietismo em certas cabeças bálticas — e os mais próximos sabem do que falo, de subtracção de menores, por exemplo — nunca mudarão. E é claro que tudo isto mexe comigo. Um conselho? Nunca desistam dos filhos, eles percebem e sabem distinguir o bem do mal.

Pedrometro

Ivonete fazia uma média de quatro ou cinco por ano.

Tratado sobre a Riqueza

Luxemburgo? Burgueses de luxo!