O meu 12 de Março
Como esquecer? O meu primeiro estágio começou num 11 de Março. "O meu 11 de Março", como sempre gostei de brincar. Estávamos em 1995 e passaram-me uns takes para fazer uma breve sobre a Irlanda do Norte. Antes, estivera oito meses em casa à espera de uma resposta. Um talvez que fosse. Tinha acabado o curso de Relações Internacionais e tinha a ideia fixa de me tornar jornalista. Interessante idiossincrasia do sistema, a minha faculdade não tinha quaisquer ramificações com o mundo profissional. Nem um Erasmus consegui fazer, credo, como era complicadinho nesses tempos. Depois ainda estagiei um ano de borla no Diário de Notícias até me atirar para um curso de formação profissional no Cenjor. Um ano com uma bolsa de 37 contos e desemboquei no Público, a recibo verde, naturalmente. Hoje, 16 anos depois, estabelecido como freelancer e decidido a manter-me assim até mais não poder, vítima de uma portugalite que me auto-impôs Tallinn como casa, sinto algum alívio. Porque se passaram 16 anos e a teimosia tem compensado, porque pressinto um recomeço: este é também o meu 12 de Março. Há uma geração de portugueses onde eu finalmente me revejo. Em quem acredito. Eu tenho 39 e eles 31. Ou 18. Ou 23. A precariedade começou há muito e em Portugal bebe quase sempre do mesmo: o pensamento oligárquico das pseudo-elites. Vivem no preconceito, são tranversais ao sistema e têm essa característica tão latino-americana de se eternizarem lá por cima, de cavar assimetrias enquanto fomentam clientelismos. O seu pensamento fraco obriga à ruptura.
Mais do que um 12 de Março, este é um doce de Março no qual vou tentar idealizar um Portugal
Com menos betos que só dão um beijinho;
Que viva menos das aparências;
Onde as ideias válidas usurpem a praga das cunhas;
Onde o empreendedorismo compense;
Com pelo menos um político em quem valha a pena votar;
Que cultive a meritocracia;
Que não se aproveite dos mais fracos;
Que deixe de favorecer bancos, construtores e clubes de futebol;
Sem medo do presente e muito menos do futuro;
Global;
Livre da máfia da Beira Baixa;
Menos cinzento;
Mais optimista e com menos fados familiares;
Com menos títulos e apelidos;
Onde as televisões e respectivos comentadores sejam postos no devido lugar;
Com ambição e vontade de se instruir;
Que prefira a qualidade à quantidade;
Onde os chico-espertos passem a respeitar a fila do autocarro;
Com casas com menos humidade;
Onde as marquises e os prédios devolutos sejam a excepção;
Com menos Sportingues-Benficas ou Portos-Lisboas;
Que tenha justificado orgulho em si.
É 12 de Março e há uma tempestade de neve em Tallinn. Oxalá a de Lisboa, mais logo, seja tão romântica e luminosa. Hoje é um desses dias bissextos em que tenho muita pena de não poder estar aí. De estar convosco, pá.
Comentários
Aplausos pra você,João,de pé. Isso que você descreveu era o que o meu pai falava. E tem muiiiiiiitos anos.
Quem pode fazer de Portugal uma NAÇAO sem mediocridade é o seu povo. E tem que saber OLHAR...SENTIR...OUSAR...
12 de Março também é níver da Ana Luísa. A nova geração.
Beijos João...é isso mesmo....
Maçonaria, Ópus e Xicoespertismo são as únicas coisas organizadas que existem aqui.E, no aqui e agora , o Futebol embebeda o povo, a Justiça mora longe e os imbecis tornaram-se deuses.
Mas não penses/pensem que é apenas Portugal, aqui as coisas não são muito diferentes. A desídia, a indolência, a conformidade, a apatia, a hostilidade... em resumo: a merda, globalizou-se.
Hoje senti inveja (daquela inveja boa) ao pensar que vocês saíram à rua e enquanto aqui...
Esqueci que Portugal teve um 25 de Abril enquanto nós deixamos morrer o ditador na cama (e muito, muito velho).
Sou pessimista e acho que amanhã a maioria das pessoas que hoje saíram à rua não farão mais nada do que se gabar de lá ter estado.
Mas oxalá eu esteja errada, oxalá que o protesto de hoje sirva para alguma coisa, nem que seja para acordar consciências. Oxalá que de este novo "25 de Abril" traga força, esperança e mais cravos vermelhos (e que, por favor, desta vez não voltem a ser pisoteados)
Eu, sugiro um grande Forum, aqui no Circo, subordinado à ideia : IMBECIS QUE SE TORNARAM DEUSES.
Não existe o país ideal, assim como não existe o ser humano ideal.
Mas sonhar não custa caro! Mesmo que o sonho venha silencioso e acolhido por dois amigos em Tallinn...
Neste seu ‘doce’ exílio, meu abraço solidário.
E no seio de muitos povos (entre os quais o nosso) tem raízes bem fundas... porque culturais.
Valha-nos o sonho, e a esperança que o alimenta! Que parvos somos! :-)
Vocês não esperaram por amanhã. Até têm razão.Nestas coisas o tempo urge.
Mas, amanhã, cá estaremos, de novo.
o Circo também está À Rasca.
São adoradores do "quanto pior, melhor".
Resultado, o Phitecus avançou para um número de trapézio (sem rede) e
estatelou-se. Por sorte, sem consequências graves, apenas parti a...tola . Claro, estou à rasca.
Beijos Phitequinho.Melhoras.
Enquanto o Ayatollah Jonas,chuta para canto. Enquanto a Manu+Ela, arma em alma caridosa.
Os Imbecis deste Mundo estão felizes e intocáveis .O Forum, falhou.
Valha-me o Manuel Pintor. Que pena que eu tenho Manuel, de ter querido ser perfeccionista ...
Acaba sempre sozinha!
"Se o meu barco desaparece da vista, não significa que a minha viagem acabou, significa apenas que o rio faz uma curva".(John Powell)
Tenho um xará aqui, o Manuel
Da geometria e a poesia, vai uma curta passada. Não tardará muito,a entrada do António Maria Barbosa.
Sim,teremos o Bocage, no Circo.
(Ai,a minha tola, ai,ai!...)