O empata
Nos anos 70 e 80 em Portugal, o empata – em todas as suas variantes – era uma figura omnipresente e paradoxalmente inesquecível. Exímio no ofício de travar fluxos, interromper momentos e embaralhar planos, tinha uma habilidade quase artística para converter o simples em complicado, o promissor em frustrante. Mas, claro, o empata-fodas era o apogeu desta linhagem, uma espécie de herói trágico do bloqueio humano. Imaginemos: um jantar a dois, velas acesas, a conversa flui, os olhares aquecem. E eis que o empata aparece – de improviso, claro –, largando a sua mala e um "Espero não incomodar!" tão desavergonhado que até as velas hesitam em apagar-se. Na discoteca, era aquele que irrompia entre um casal já sincronizado na dança, braços abertos, gritando "Bora outra rodada!" . No baile de aldeia, conseguia desviar um pedido de namoro com uma anedota sem graça, contada a plenos pulmões. Mas o empata não se limitava ao amor e à luxúria. Era também quem se oferecia para ...