O empata
Nos anos 70 e 80 em Portugal, o empata – em todas as suas variantes – era uma figura omnipresente e paradoxalmente inesquecível. Exímio no ofício de travar fluxos, interromper momentos e embaralhar planos, tinha uma habilidade quase artística para converter o simples em complicado, o promissor em frustrante. Mas, claro, o empata-fodas era o apogeu desta linhagem, uma espécie de herói trágico do bloqueio humano.
Imaginemos: um jantar a dois, velas acesas, a conversa flui, os olhares aquecem. E eis que o empata aparece – de improviso, claro –, largando a sua mala e um "Espero não incomodar!" tão desavergonhado que até as velas hesitam em apagar-se. Na discoteca, era aquele que irrompia entre um casal já sincronizado na dança, braços abertos, gritando "Bora outra rodada!". No baile de aldeia, conseguia desviar um pedido de namoro com uma anedota sem graça, contada a plenos pulmões.
Mas o empata não se limitava ao amor e à luxúria. Era também quem se oferecia para “ajudar” num projeto só para atrasar tudo. Ou aquele colega que, numa reunião, levantava "uma questãozinha rápida" cinco minutos antes do fim.
O pior? Não era ingenuidade. Não há azar tão consistente. O empata, no fundo, vibrava com o caos que causava, saboreando o poder de transformar momentos em becos sem saída.
Comentários
os diálogos salvadores de penitências nos bancos dos confessionários. Sim, o " empata " é uma "nexexidade" e, tantas vezes salvação. Viva Portugal ! Glória ao " empata " !...
nexexidade