Aos Drs. Amigos do Peito

Em Portugal, a tosse tem donos — ou, pelo menos, assim gostam de pensar os rebuçados do Dr. Bayard e do Dr. Bentes. Tudo começou em 1939, quando Álvaro Justino Matias, vindo de Vale da Mula, Almeida, encontrou um refugiado francês em Lisboa que lhe confiou, não ouro, mas uma receita. Em 1949, Álvaro transformou a fórmula mágica nos rebuçados do Dr. Bayard, feitos em casa, com a família a desempenhar o papel de alquimistas amadores. Açúcar, glucose, mel e um toque misterioso de plantas medicinais: nasceu o “salvador do peito” e, com ele, o orgulho português na farmácia artesanal. 

O "Dr. Bentes" e respectiva "fórmula", por sua vez, apareceram do nada em 1955, mas não na Nazaré (apesar de hoje pertencerem à minhota Drops Nazaré, que tem sede em Afife). Sem o mesmo charme de “encontros com refugiados”, mas eficaz, a marca estabeleceu-se como a alternativa pragmática ao glamour da tosse — como "o outro amigo do peito". 

Não bastasse o duelo nas prateleiras com o Dr. Bentes, o Dr. Bayard declarou guerra às marcas brancas, incluindo a do hipermercado Continente. Contra todas as expectativas, em Dezembro de 2022, o Dr. Continente lá se conseguiu defender em tribunal. O veredicto? Em Portugal, a tosse é democrática. Hoje por hoje, Bayard e Bentes — assim como tantos outros rebuçados de bata branca — continuam o seu combate pelo “peito nacional”. Um combate que é, em rigor, menos antagónico do que simbiótico.

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