Homenagem ao Mirone

O mirone das dunas do Algarve, nas décadas de 70 e 80, era uma sombra furtiva, amante invisível de corpos entregues ao sol e à sensualidade do verão. Oculto entre a vegetação, observava com olhos ávidos os gestos, os risos e as carícias dos outros, sorvendo com prazer clandestino o espectáculo que se desenrolava diante dele. Era a encarnação do desejo silente, o voyeur arcaico, embriagado pelo perfume salgado e pelo calor da pele alheia. Cada movimento, cada toque era uma ode ao proibido, e ele, fiel guardião das dunas, sabia bem que o prazer residia na distância.