Benedetti era o maior, Manu, um daqueles (poucos) autores que te tocam fundo. Grande perda! :-(
Ainda bem que ficou a obra dele (delicio-me de vez em quando a rele-lo e tenho pendurada na parede, junto do computador, o poema "A la izquierda del roble")
Foi interessante (e interessante é uma palavra interessante). No dia em que saí à rua com suíças tive de passar por casa do Óscar para uma sueca com estas mesmas canadianas. Ou melhor: com as canadianas amparando-me a mim e às suíças. Felizmente que não são mutuamente exclusivas.
Decidi visitar Belém em 2006. Não a que confina com Algés, a outra, hoje absolutamente muralhada na Cisjordânia. Recordo-me de uma estranha densidade de pessoas, pior só talvez mesmo Macau, bandeiras da cooperação norueguesa, demasiadas fotos de mártires de kalash em riste. Em rigor, visitar a gruta onde Jesus Cristo alegadamente terá nascido foi razoavelmente deprimente e sem direito nem ao burro nem à vaquinha com os seus bafos aconchegantes. Por Belém ficámos umas horas, sempre altamente vigiados pelo IDF, adoro o eufemismo, que a partir das suas altas torres tudo observavam. A quantidade de crianças foi o que mais me marcou. A experiência foi bem intensa mas ficou arrumada durante quase duas décadas numa pequena gavetinha — é óbvio que o deboche e cosmopolitismo fino das noites de Telavive se sobrepõe sempre quando de um hedonista encartado, o mesmo que vos escreve estas linhas, falamos. Não sou religioso, embora tenha um certo culto — quiçá semi-fantasioso, seguramente míst...
Comentários
Todo mandato é minucioso
e cruel
eu gosto
das frugais transgressões
por exemplo inventar o bom
amor
aprender
nos corpos e em seu corpo
ouvir a noite e não dizer
amém
traçar
cada um o mapa de sua audácia
mesmo que nos esqueçamos
de esquecer
é certo
que a recordação nos esquece
obedecer cegamente deixa
cego
crescemos somente na ousadia
só quando transgrido alguma
ordem
o futuro se torna respirável
todo mandato é minucioso
e cruel
eu gosto
das frugais transgressões
Mário Benedetti
Ainda bem que ficou a obra dele (delicio-me de vez em quando a rele-lo e tenho pendurada na parede, junto do computador, o poema "A la izquierda del roble")
Grande, grande, grande... Benedetti