Decidi visitar Belém em 2006. Não a que confina com Algés, a outra, hoje absolutamente muralhada na Cisjordânia. Recordo-me de uma estranha densidade de pessoas, pior só talvez mesmo Macau, bandeiras da cooperação norueguesa, demasiadas fotos de mártires de kalash em riste. Em rigor, visitar a gruta onde Jesus Cristo alegadamente terá nascido foi razoavelmente deprimente e sem direito nem ao burro nem à vaquinha com os seus bafos aconchegantes. Por Belém ficámos umas horas, sempre altamente vigiados pelo IDF, adoro o eufemismo, que a partir das suas altas torres tudo observavam. A quantidade de crianças foi o que mais me marcou. A experiência foi bem intensa mas ficou arrumada durante quase duas décadas numa pequena gavetinha — é óbvio que o deboche e cosmopolitismo fino das noites de Telavive se sobrepõe sempre quando de um hedonista encartado, o mesmo que vos escreve estas linhas, falamos. Não sou religioso, embora tenha um certo culto — quiçá semi-fantasioso, seguramente míst...
Comentários
Em primeiro lugar, não achei outro lugar mais apropriado pra postar, então vai aqui mesmo; ainda que não tenha nada a ver com o teor do seu post. Mas veja como coisas surpreendentes estão sempre acontecendo. Esses dias, sem querer, encontrei um vídeo no you tube, de teor musical. Gostei do som da língua que ouvia; a julgar pela aparência do povo, supus que era algum povo eslavo (ainda que tivesse advertido que aquela língua não era escrita usando alguma variedade do alfabeto cirílico.) Pois bem, sou curioso em relação a línguas e povos etc, assim, tive que continuar a pesquisa. Descobri, pois, que aquela língua tratava-se da estoniana e que aquele povo que cantava era o totalmente obscuro - para mim - povo estoniano. Hoje, querendo ouvir alguma rádio desse país, encontrei uma de nome "Raadio Kuku" (essas vogais dobradas me são muito esquisitas, parece holandês), e - aí você entra na história - qual não foi minha surpresa quando, tendo sido direcionado a um outro site através daquele primeiro, li, com espanto, o nome, o belo nome: "João". E mais - havia um sobrenome também inteligível no meio daquele mar onde eu navegava ignorante e analfabeto. Que surpresa encontar um lusófono por aquelas bandas... realmente não esperava. Aí o resto não tem muito interesse; descobri que você é escritor, que mora na capital do país a respeito de cuja cultura eu pesquisava etc... Mas, aproveitando, me diz uma coisa: os estonianos estão mais pro lado dos eslavos ou dos nórdicos?
Abração,
São Paulo, Brasil.
ah, os referidoss sites são esses:
http://www.naine24.ee/544570/jo-o-lopes-marques-lolitad-ja-toyboy-d-kas-vanusevahe-on-oluline/
http://www.kuku.ee/
A Internet tem este lado fascinante, sem dúvida. Navegação pura, deixamo-nos ir ao sabor do vento e das correntes e estas coisas acontecem... Curioso, aqui arribei da mesma maneira... Vim por uns meses e já cá estou há quase seis... e com família, pelo que...
Já agora, a Raadio Kuku é excelente. Quanto ao Postimees, trata-se do principal diário da Estónia, onde assino uma crónica semanal.
Quanto à sua pergunta, é clássica e de fácil resposta: os estónios são um povo fino-úgrico que nada tem que ver com os eslavos. Nem sequer são indo-europeus, vieram dos Urais há uns 10 mil anos. Claro, a vizinhança com a Rússia e a ocupação soviética entre 1940 e 1991 ajudam à confusão.
Segundo ponto: são, por isso, muito próximos dos finlandeses, também eles fino-úgricos e cuja língua é bastante semelhante (eu diria que diferem um do outro como o português do italiano). Daí que sejam nórdicos puros, pois, embora não confundir com os escandinavos (Suécia, Dinamarca, Noruega e Islândia), que sendo igualmente nórdicos descendem de tribos germânicas do Norte.
Já agora há mais quase duas dezenas de nações fino-úgricas no actual território da Federação Russa, a maior parte delas vítimas de genocídio cultural, uma pena.
Espero ter ajudado. Apareça por cá, a Estónia é um país cheio de poesia! envio-lhe também um música que tem sido a minha droga nas últimas semanas:
http://www.youtube.com/watch?v=CanuC6bLkAc
Aquele abraço transbáltico e transatlântico.
João
Muito obrigado pela explicação; foi sucinta e claríssima. Infelizmente, não vislumbro a curto prazo nenhuma possibilidade de me aventurar em terras estonianas, ou qualquer outra estrangeira que seja nesse vasto mundo. Relendo meu primeiro comentário vi que me expressei mal: "Aí o resto não tem muito interesse..." Na verdade eu queria dizer que o resto da história era bem "previsível" essa sim, a palavra. Tanto mais que o seu "O homem que queria ser Lindbergh" já me despertou vontade de lê-lo. Mas, pela pesquisa que fiz, me parece bem difícil conseguir um exemplar por aqui... Na verdade, João, assim como você, (ao que parece), também eu sofro da febre da literatura. Com todos os "males" e prazeres contidos aí.
Pra terminar, reafirmo minha opinião e encanto para com o som da língua em questão. Eis o vídeo ao qual me referi no primeiro comentário e que originou essa nossa comunicação:
http://www.youtube.com/watch?v=7jHvDBBuscg&list=PL061E248F40D4C7DC&index=5&feature=plpp
Realmente, que coisa linda!
Desculpe-me ter me extendido tanto.
Português(povo) é igual a pardal, existe em qualquer lugar do mundo.:))
Mas aqui se trata muito mais do lado surpreendente da coisa. Além disso, nem todos tem a moral de, chegando ao lugar, emitir opiniões nas mídias dali, ser lido, ouvido etc.
Muito obrigado pela explicação; foi sucinta e claríssima. Infelizmente, não vislumbro a curto prazo nenhuma possibilidade de me aventurar em terras estonianas, ou qualquer outra estrangeira que seja nesse vasto mundo. Relendo meu primeiro comentário vi que me expressei mal: "Aí o resto não tem muito interesse..." Na verdade eu queria dizer que o resto da história era bem "previsível" essa sim, a palavra. Tanto mais que o seu "O homem que queria ser Lindbergh" já me despertou vontade de lê-lo. Mas, pela pesquisa que fiz, me parece bem difícil conseguir um exemplar por aqui... Na verdade, João, assim como você, (ao que parece), também eu sofro da febre da literatura. Com todos os "males" e prazeres contidos aí.
Pra terminar, reafirmo minha opinião e encanto para com o som da língua em questão. Eis o vídeo ao qual me referi no primeiro comentário e que originou essa nossa comunicação:
http://www.youtube.com/watch?v=7jHvDBBuscg&list=PL061E248F40D4C7DC&index=5&feature=plpp
Realmente, que coisa linda!
Desculpe-me ter me extendido tanto.
Português(povo) é igual a pardal, existe em qualquer lugar do mundo.:))
Mas aqui se trata muito mais do lado surpreendente da coisa. Além disso, nem todos tem a moral de, chegando ao lugar, emitir opiniões nas mídias dali, ser lido, ouvido etc.
Obrigado pela partilha. Esse vídeo foi gravado no Laulupidu, um grande festival de coros que acontece a cada cinco anos. Este ano anteciparam devido a Tallinn 2011, Capital Europeia da Cultura.
Quanto ao "O Homem que queria ser Lindbergh", se mantiver o interesse, podemos arranjar uma forma expedita de o fazer chegar aí. É o meu primeiro romance e, curiosamente, está traduzido para estónio.
Um abraço do Outono recém-chegado de Tallinn,
João