Citroën DS
E o orgulho que papá tinha naquela viatura, que, em abono da verdade, já não passava de mais um chaço gaulês com matrícula legalizada. "Pode ser um chaço para vocês, mas salvou a vida ao General De Gaulle!", repetiu até ao fim enquanto a família, cúmplice e espectadora, se acotovelava. Bem me lembra que, antes de morrer vítima daquela doença chata que todos sabemos, ainda nos pediu para nunca o vendermos. Jamais! Que o nosso arrependimento seria eterno! Que choveriam ofertas pela berline de quatro portas, mas que deixássemos o boca-de-sapo verde água de tejadilho branco em paz e, assaz mais relevante, sempre estacionado junto ao portão da quinta. Toujours! Eu era a favorita de papá — e bem sei que nem Margot nem Jean-Michel alguma vez fizeram algum esforço para merecer singular predilecção —, mas apesar das justificações de maman ainda hoje me custa entendre, desculpem, entender, tamanha ciganofobia.
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